Egas Francisco completou 80 anos de uma vida dedicada às artes plásticas e traz suas obras novamente à mostra, desta vez, de forma inusitada e mais íntima possível.
Em Palimpsesto Mágico, serão apresentados 170 esboços produzidos pelo artista durante sessões de psicanálise, aquarelando com as cores da alma e dos segredos mais abissais, em número variado conforme a sessão, sempre alinhavados à interpretação, em palavras, do psiquiatra Isac Karniol, que junto da psicóloga Patrícia Karniol, idealizaram o evento.
“Dedico minha vida à procura do definitivo que nunca se completa. Não somente o resultado passageiro, mas a vida que desabrocha em sucessivos momentos, parecendo procurar uma forma que, alcançada, também acaba sendo passageira. O desejado é a cada instante sentir-se livre, vivo, participando e participante”, instiga-nos Karniol, psiquiatra, cientista e psicanalista que diz, também, sentir-se em terapia quando em sessão com o artista. Mais que isto, logo percebem que estão se tratando e a “cura” é uma utopia.
Um ou vários esboços em uma sessão acabam representando, em sua finitude, o infinito que é a vida. Quando essa possibilidade de representação é difícil para Egas, é do negro todas as cores que ela acaba surgindo. Ao final das sessões, geralmente Egas e Isac saem fortalecidos, com a imobilidade e a morte em vida vencidas. Egas volta a criar no seu ateliê.
Momentos são documentados não somente pela memória, geralmente falha e deformante, mas pelas sucessivas produções pictóricas. “Esta não é minha arte, aquela que sempre produzi e que me tornou reconhecido. São linguagens espontâneas que me vêm à consciência, executadas em poucos minutos’, explica Egas. Em algumas delas, apesar da rápida execução, toda sua sensibilidade vem à tona artisticamente. “Às vezes, saio à procura do abstrato e, eventualmente, o figurativo predomina; cores vibrantes, sentimentos e emoções que espocam não ficam somente no ar, mas aparecem visíveis no papel”, complementa o artista.
A Psicanálise é constantemente comparada à relação artística entre paciente e analista. Na análise com Egas, pela primeira vez, as produções surgem na própria sessão, na relação analítica com um artista consagrado, podendo, então, ser considerados verdadeiros e originais documentos psicanalíticos.
“Levando em conta os esboços, procuramos, numa linguagem verbal, traduzir em sonho acordado o que teria ocorrido nas sessões. Não é uma verdade absoluta, historicismo rigoroso, apenas uma tentativa”, diz a psicóloga Patrícia Karniol.