porque toda a vida é sonho
e os sonhos, sonhos são.
(Calderón de La Barca)
… e a casa do coração da gente começa
com o sonho de tê-la aqui.
Aqui, a natureza e a arquitetura – quinta
arte – se aliançam para arrebatar olhares e
amores à primeira, à segunda e às demais
infinitas vistas. A beleza é soberana, a
estética se impõe.
Aqui está a casa da emoção, a que deixa
para a outra a missão de ser aquela dos
dias úteis, do trabalho, do estudo, da
razão.
Aqui é a second home, que traz para si a
tarefa de acolher as pessoas para o
hedonismo, para a percepção do quanto
há a nada-fazer.
Aqui é o lugar da casa da Baro, lugar que
tem o carinho do apelido diminuto, tem a
turma do golfe, da hípica, do tênis, do
beach tennis e as gentes podem ser de
várias turmas.
Aqui é casa de lazer, de receber amigos,
de trocar gentilezas, de criar os filhos, de
criar os laços.
Aqui já se vão vinte anos: uma geração se
passou com a Baro.
Aqui é o lugar onde o tempo tem outro
tempo, flui de outra forma: alegre, colorido
e vibrante pelas manhãs e arrastado nos
finais das tardes, não querendo ir-se, os
minutos se espicham o quanto podem para
manter o fim de semana vivo…
Aqui, de repente, não se sabe a hora; a
sensação
de que a casa da gente é onde a gente
mora no coração!
Aqui é lugar de gente ser feliz.
A nossa casa, Amor, a nossa casa!
Onde está ela, Amor, que não a vejo?
Na minha doida fantasia em brasa
Constrói-a, num instante, o meu desejo!
(Florbela Espanca)
Ligia Testa, curadora @ligiatestaarte | outubro de 2019
Quando me convidaram para fazer a curadoria desta exposição, senti orgulho e o peso do desafio, já que o local respira outras artes, como a arquitetônica, além da natureza ser bela e muito bem cuidada. Em que pese tratar-se de minha trigésima produção, havia muitos quesitos a considerar nesta, em especial. Primeiro, o conteúdo seria totalmente voltado aos associados, visto ser uma mostra documental mais que artística, mas também havia de lhes ser atrativa.
O trabalho curatorial de cerca de 6 meses deu-se na escolha das 80 fotos dentre as 600 que avaliamos, com alguns critérios: não ter casas ou pessoas específicas, com foco na ideia de mostrar o início do empreendimento como um todo. Também havíamos de cuidar da boa resolução final, pois a maioria das fotos tem 20 anos de idade, com manchas, descolorações. Assim, contamos na equipe com um fotógrafo especializado em impressões fineart para tratar a maioria das fotos, cada uma exigindo cerca de 30 minutos.
A impressão das imagens escaneadas e ampliadas também foi pensada para trazer encantamento quanto à qualidade e durabilidade das obras: papel importado 100% algodão e tinta mineral em impressão do tipo museológica, de tal forma que seja agradável de ser vista e que possa ser mostrada daqui a 150 anos.
A montagem das 82 obras foi outro grande desafio: o espaço do Clube Hípico não tem paredes de alvenaria e nem pode ter as paredes revestidas de madeira machucadas. Assim, não podíamos pensar em vidros nos quadros, para não pesar, e eles foram instalados de duas maneiras: nas portas de vidro, com fita dupla face, e, nas paredes de madeira, com fios de nylon descendo da alvenaria.
Assim, nosso foco sempre foi o de surpreender os associados com um material nobre, que possa ser transformado em álbuns e reapresentado nos 50, 100, 150 anos da Baroneza com Z, de Feliz.
Ligia Testa, marchand e produtora artística, dez/2019