A Arte Virtual não é algo novo; na década de 60, alguns artistas já faziam intervenções utilizando o potencial tecnológico dos computadores nos Estados Unidos e na Alemanha. Os matemáticos alemães Georg Nees e Frieder Nake e o cientista da computação americano Kenneth Knowlton são considerados pioneiros desse movimento, embora a maioria de seus trabalhos utilizasse suportes tradicionais: papel, serigrafia e vídeo.
Com a invenção do NFT (token não fungível, em tradução livre), espécie de certificação digital que concede a propriedade de uma obra de Arte a um comprador, as artes virtuais inauguraram uma nova era para a Arte. Em 2021, uma colagem de 5 mil imagens, intitulada “Beeple’s Everyday – The First 5000 Days”, do artista Mike Winkelmann, mais conhecido como Beeple, foi vendida por US$ 69,3 milhões durante leilão na Christie’s em Nova York, estabelecendo o recorde de o terceiro maior valor para um artista vivo. Isso é mais prestigioso do que a maioria dos mestres da pintura, incluindo o italiano Rafael.
O mais excêntrico deste caso é que a obra não existe no plano físico. O que foi vendido foi o NFT associado à obra, que nada mais é do que um ativo criado para garantir a originalidade de um item. Campinas também registra suas primeiras experiências neste novo universo da Arte.
Caso de Fernanda Carvalho, de Campinas, formada em Arquitetura e apaixonada por desenho desde criança. Ela vem desenvolvendo trabalhos virtuais interessantes, perturbadores e inovadores utilizando Inteligência Artificial. Após 12 anos de estrada como arquiteta, em 2019, decidiu abraçar sua outra grande paixão, as artes visuais, passando a produzir e criar a partir de diversas técnicas — grafite, lápis de cor, nanquim, tinta acrílica e colagem — em suportes físicos, como papel, tela e madeira.
No final daquele mesmo ano, Fernanda conheceu a curadora e proprietária da galeria que leva seu nome, Lígia Testa, localizada no bairro Taquaral. Ao analisar a obra da artista, Lígia abriu espaço para suas criações quando a artista participou de algumas exposições virtuais. Atenta, Fernanda não tem medo de ousar e explorar novos territórios.
“A emoção é o início do meu processo criativo. Indignação, tristeza, vergonha, preconceito, culpa, medo, orgulho, alegria, esperança… O que me excita? Porque a emoção só pode ser sentida pelos seres humanos e não pela IA. Surge o insight de associar a emoção sentida a algo concreto. Pode acontecer logo após você sentir ou anos depois”, revela. O próximo passo vem naturalmente para ela. “A ideia vem com muita energia e motivação, o que leva à execução”, afirma. Cada ideia pede uma técnica (giz de cera, giz, tinta acrílica, grafite) ou uma tecnologia (IA e blockchain).
“A tecnologia é a evolução da técnica. No meu trabalho, a cada dia, a técnica dá lugar à tecnologia. Mas é importante esclarecer: para mim, tanto a técnica quanto a tecnologia são ferramentas e estão a serviço da ideia. Sim, isso é o verdadeiro protagonista!” destaca o artista. Depois de definida a técnica e tecnologia, inicia-se o processo de execução. Quando se trata de Arte digital, Fernanda gera a imagem usando IA.
Essa imagem servirá de pano de fundo para seus personagens, que ela cria e produz manualmente, em técnica mista. “Quando os personagens ficam prontos, eu os fotografo e insiro na imagem gerada pela IA, transformando-a em uma nova imagem, com um novo significado e capaz de gerar emoções e questionamentos”, descreve Fernanda. Com a obra pronta, o artista recorre à tecnologia blockchain, transformando-a em NFT. “Meu processo criativo termina nesse momento.
Porém, como diria a curadora Lígia Testa, precisamos de Arte, mas a Arte precisa de pessoas. Então, para fechar o ciclo com sucesso, minha Arte precisa ser vista, e, se pelo menos uma pessoa se emocionar ao vê-la, o processo está completo”, finaliza.
Coletânea de NFTs ‘Casas Inóspitas’ Recentemente, o depoimento de uma pessoa contando sobre o preconceito, a rejeição e a solidão que enfrentou quando sua família descobriu sua homossexualidade comoveu profundamente o artista. “O depoimento dela ficava ecoando na minha cabeça. Algumas semanas depois, notei uma casa de vespa na parede da minha garagem e imediatamente associei ao depoimento. Concluí: são casas inóspitas”, lembra.
A partir do insight, ela tirou uma foto, criou dois personagens com mídia mista e juntou-os digitalmente. Assim nasceu o NFT ‘Casa de Marimbondos’ da coleção ‘Terra dos Invisíveis’. A partir daí, criou a coleção de NFTs ‘Casas Inospitas’, trazendo como tema a violência doméstica. “A ideia era colocar meus personagens em casas inóspitas e surreais: como cactos, arcada dentária de tubarão, plantas carnívoras, águas-vivas, abóbadas, iglus”, lembra.
O problema era como obter essas imagens. “Ao mesmo tempo, descobri a IA para geração de imagens. Problema resolvido. Em um único dia, criei todas as imagens que precisava. Como num passe de mágica? Não! Precisava saber como funcionava, escolher as melhores IAs para imagem, saber a melhor forma de descrever exatamente o que eu queria”, relata. Fernanda considera fundamental dizer que, como em qualquer Arte, o NFT pode ou não apresentar qualidade e relevância artística. isso, galerias especializadas estão dispostas a orientar. Precisamos conhecer as novas tecnologias e utilizá-las a nosso favor. Afinal, trata-se de Arte, e Arte é emoção: existe o bem e o mal”, finaliza.
A exposição on-line vai até o dia 29/9/2023 em nosso marketplace internacional Artsy, confiram: https://www.artsy.net/show/galeria-ligia-testa-nft-a-new-era-in-the-art-works